Em uma iniciativa inédita, o governo brasileiro lançou na segunda-feira, 18 de setembro, uma inovadora forma de financiamento para a proteção do meio ambiente. O anúncio aconteceu durante um evento realizado na Bolsa de Valores de Nova York, com a presença dos ministros Fernando Haddad e Marina Silva, além dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado.
Pela primeira vez em sua história, o governo brasileiro planeja disponibilizar títulos da dívida externa no mercado financeiro internacional, adotando critérios sustentáveis, denominados “títulos verdes”. Essa medida representa um passo importante em direção à captação de recursos destinados exclusivamente a iniciativas sustentáveis voltadas para a proteção do meio ambiente.
Nos meses que antecederam o lançamento, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, empreendeu diversas reuniões com investidores estrangeiros para conquistar sua confiança e garantir o sucesso dessa nova empreitada. Durante essas negociações, Haddad destacou a importância de superar obstáculos como a falta de segurança jurídica no Brasil, enfatizando a urgência de reformas tributárias para atrair investimentos estrangeiros.
“A principal questão que eles falam é a reforma tributária, maior insegurança jurídica que o Brasil oferece hoje é o caos tributário, que ninguém sabe quanto deve, quanto tem a receber. Isso é um horror”, declarou Haddad.
A expectativa é que, somente nos Estados Unidos, a venda desses títulos verdes possa captar até US$ 2 bilhões, equivalente a cerca de R$ 10 bilhões. Os recursos provenientes desses títulos serão destinados exclusivamente a ações sustentáveis, como a adaptação da indústria brasileira aos desafios impostos pelas mudanças climáticas. O governo brasileiro também se comprometeu a divulgar relatórios anuais detalhando como o dinheiro será investido. Os títulos verdes deverão estar disponíveis para compra até o mês de outubro.
O evento de lançamento contou com a participação dos presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, do Senado, Rodrigo Pacheco, e da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Marina Silva ressaltou a mudança na imagem do Brasil no exterior nos últimos meses, destacando os esforços para reduzir o desmatamento em 48% e evitar a emissão de cerca de 200 milhões de toneladas de CO² nos primeiros oito meses do ano.
“Com certeza já há uma grande expectativa por esses títulos. E a imagem muda quando mudam as atitudes. As atitudes mudaram. Obviamente que a imagem muda. Nós, nesses 8 primeiros meses, reduzimos o desmatamento em 48% e evitamos lançar na atmosfera cerca de 200 milhões de toneladas de CO². Já estamos recuperando as políticas públicas da área socioambiental”, disse Marina Silva.
No período da tarde, o ministro Fernando Haddad teve uma reunião bilateral a portas fechadas com o representante especial dos Estados Unidos para o clima, John Kerry. Posteriormente, ambos participaram de um evento que enfatizou o desenvolvimento sustentável do Brasil, com foco na região amazônica.
John Kerry enfatizou a importância de explorar oportunidades de parcerias que permitam ganhos financeiros ao mesmo tempo em que protegem o meio ambiente.
“O que eu conversei com John Kerry, inclusive antes de vir para cá, foi que nós tínhamos que abrir espaço para que as nossas empresas pudessem fazer mais parcerias, porque nem tudo interessa produzir nos Estados Unidos. Tem uma parte da produção manufatureira americana – que tem como destino o mercado de consumo dos Estados Unidos – que é produzida no México. Há coisas que podem ser produzidas no Brasil, até porque o México não tem uma matriz verde, uma matriz energética verde como nós. Então, o aspecto crucial é que nós possamos explorar mais possibilidades sem as amarras típicas dos acordos bilaterais e multilaterais”, afirmou Haddad.
O lançamento dos títulos verdes representa um marco importante na busca do Brasil por soluções financeiras sustentáveis e na sua contribuição para a preservação do meio ambiente. A iniciativa promete impactar positivamente não apenas o país, mas também o mundo, ao criar novas oportunidades de investimento que aliam lucro à proteção do planeta.