A noite da última quinta-feira, 3 de abril, foi marcada por emoção e celebração na Universidade Nilton Lins, em Manaus. Dez alunos ribeirinhos de comunidades do Amazonas colaram grau no curso tecnológico em Gestão de Turismo, consolidando um marco histórico para o fortalecimento do Turismo de Base Comunitária (TBC) na região. Com duração de dois anos e meio, a capacitação ofereceu ferramentas essenciais para que esses profissionais impulsionem a economia local de forma sustentável.
“Através dessa parceria, transformamos o sonho de muitos em realidade, que é a oportunidade de aprofundar o conhecimento destas pessoas, que estão ligadas à atividade do Turismo de Base Comunitária, a uma expansão de valores, de conhecimento e prepará-las para um salto nos seus empreendimentos. Alguns são donos de pousadas, outros de restaurantes e outros estão pensando em ter seu próprio empreendimento. E isso mostra o potencial que temos em valorizar o talento das comunidades ribeirinhas, das aldeias indígenas, e a educação é essa porta de entrada para um novo mundo. Concluímos essa etapa com muita felicidade e muita gratidão a todos que contribuíram para esta jornada”, afirma o superintendente-geral da FAS, Virgilio Viana.
O curso foi viabilizado por uma parceria entre a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e a Universidade Nilton Lins, com apoio da LVMH – Louis Vuitton Moët Hennessy. A iniciativa integra o projeto “Conservação da Amazônia: uma aliança entre natureza e criatividade”, que fomenta o desenvolvimento econômico sustentável e a valorização das populações tradicionais.
Durante a graduação, os alunos participaram de uma imersão na comunidade do Tumbira, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro. A experiência permitiu contato direto com os desafios e oportunidades do TBC, além de trocas de conhecimento com empreendedores locais e vivências culturais enriquecedoras.
“O impacto dessa formação é imensurável, porque acreditamos que estamos formando capital humano no território, estamos qualificando as pessoas e fazendo com que o emprego e a renda desses locais fiquem nas mãos desses empreendedores. Então, formar 10 pessoas das comunidades é motivo de muito orgulho, porque sabemos que estamos cumprindo o nosso papel de fortalecer as pessoas e os territórios onde elas estão inseridas”, comenta a superintendente de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades, Valcleia Lima.
A cerimônia de colação de grau ocorreu no Moinho – Centro de Inovação e Tecnologia e reuniu cerca de 90 pessoas, entre familiares, professores e representantes institucionais. O evento simbolizou não apenas a conquista acadêmica dos formandos, mas também um avanço na profissionalização do turismo sustentável na Amazônia, conforme comenta a reitora da Universidade Nilton Lins e conselheira da FAS, Giselle Lins.
“A missão da Universidade Nilton Lins é educar a Amazônia. Esses alunos ultrapassaram várias barreiras, entre elas, a seca e algumas dificuldades tecnológicas, mas nós conseguimos formá-los. E, para nós, é um sonho realizado e um trabalho feito. Então, são dez alunos formados em Gestão de Turismo, um curso muito peculiar para nossa região e muito importante”, comenta a reitora.
Com o diploma em mãos, os novos tecnólogos em Gestão de Turismo estão preparados para fortalecer o turismo comunitário, preservando os recursos naturais e promovendo a cultura ribeirinha.
Adriana de Siqueira, empreendedora na comunidade Santa Helena do Inglês, é uma das formandas. Ainda durante a graduação, ela abriu a própria pousada, a Pousada da Dri, em sua comunidade. Para ela, a formação é uma vitória.
“Com a idade que estou hoje, nunca imaginei que iria me formar em uma universidade e agradeço muito à FAS e à Nilton Lins por terem colaborado conosco. Um dos maiores desafios que enfrentei, principalmente por morar em uma comunidade ribeirinha, foi o acesso à internet e a seca. Foi difícil estudar, porque tivemos que nos locomover para outras comunidades para realizar as provas. Hoje somos guerreiros e estamos nos formando. Então, [aconselho que] nunca desistam dos seus sonhos, vai que você consegue. Especialmente para as pessoas do interior, que têm poucas oportunidades, aproveitem essas oportunidades que esses parceiros oferecem, como a FAS e a Nilton Lins”, celebra a agora tecnóloga em Gestão de Turismo.
A expectativa é que essa formação contribua diretamente para a geração de renda dentro das comunidades, consolidando um modelo de desenvolvimento sustentável que alia conservação ambiental e crescimento econômico na Amazônia.
“Hoje é um dia muito importante. A partir do momento que comecei a estudar, o curso trouxe uma nova forma de olhar para o turismo, de como trabalhar e vivenciar o turismo na comunidade em que moro. Acho que a universidade traz algo muito importante, que é como viver o turismo na prática junto com a teoria”, afirma o tecnólogo em Gestão de Turismo Tomé Cruz, indígena do povo Kambeba, que atua com hotelaria e artesanato na comunidade indígena Três Unidos.
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