O estilista Sioduhi Piratapuya, membro da etnia Piratapuia na Amazônia, inova na indústria da moda ao desenvolver um corante de tecido à base de mandioca. Sua empresa, Sioduhi Studio, não apenas busca resgatar técnicas dos povos originários, mas também promove a preservação desses conhecimentos por meio da confecção de roupas. Atualmente, ele participa do curso de MBA em Negócios e Estética da Moda na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, onde contribui com discussões essenciais para o mundo da moda.

Enquanto muitas regiões experimentam as quatro estações de forma distinta, a Região Norte destaca-se por seu clima quente e úmido ao longo de todo o ano.

Considerar a diversidade climática de cada região do país é apenas um exemplo do que Sioduhi destaca como “descentralização da moda”.

Como o único estudante indígena em uma turma com mais de cem pessoas, Sioduhi sente uma grande responsabilidade em trazer para a sala de aula questionamentos e referências que fogem do que seus colegas estão habituados. Ele observa que a presença de representantes da Região Norte no cenário da moda brasileira é escassa, com a concentração de oportunidades sendo mais proeminente no Sudeste. “No Sudeste é onde está mais concentrado e há mais oportunidades”, afirma ele.

A ausência da voz dos povos originários na academia é uma preocupação para o estilista. Em busca de preencher essa lacuna, ele compartilha suas vivências, recomenda bibliografias e destaca projetos e pesquisas relevantes. Durante uma entrevista no Congresso Internacional de Sustentabilidade em Têxtil e Moda (Sustexmoda), Sioduhi enfatizou que os professores do MBA são receptivos a discussões e questionamentos, incentivando os colegas a explorar perspectivas além da moda europeia e a focar mais nas particularidades do Brasil.

Atualmente, Sioduhi concentra seus esforços no curso e na aplicação prática da profissão. Embora não descarte a possibilidade de seguir para uma pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) no futuro, o diretor criativo da Sioduhi Studio planeja manter seu compromisso com projetos e pesquisas independentes.

Sioduhi Studio e a mandioca

A marca de Sioduhi tem como referência o futurismo indígena, movimento que visa resgatar os saberes ancestrais dos povos originários por meio de obras que dialogam com novas tecnologias, como a moda. Seu interesse pela moda se iniciou em sua comunidade, onde existiam escolas de alfaiataria e as peças eram concebidas com materiais naturais. Para ele, os conhecimentos indígenas são a base que permeia a sustentabilidade.

O estilista também desenvolveu a tecnologia Maniocolor um corante têxtil à base de mandioca, a ideia surgiu quando Sioduhi incluiu o tingimento natural em sua coleção Pamiri 23, a partir da extração de aroeira, por conta da ameaça de extinção da planta, ele começou a utilizar cascas de mandioca brava — espécie tóxica aos humanos e animais para a produção de um novo corante, a mandioca-brava foi escolhida devido à sua pigmentação forte e grande potencial de reaproveitamento e replantio, oferecendo mais serventia ao território indígena.

A Sioduhi Studio fomenta o protagonismo indígena em todos os processos que fazem parte da cadeia de criação. Além disso, a marca incentiva jovens a manterem essa prática de manuseio com fibras naturais e utilização de material originário. É desse modo que histórias invisibilizadas na moda e na história de modo geral podem ser contadas, de acordo com o fundador.