Após seis anos de espera, o grito da vitória voltou a ecoar nas cores vermelha e branca. O Boi Garantido superou o rival Caprichoso e sagrou-se campeão do Festival Folclórico de Parintins 2025, levando para casa o seu 33º título. A vitória, que veio por uma diferença mínima de pontos, foi mais do que uma conquista: foi uma celebração da cultura popular, da resistência e da força da Amazônia.
Três noites de pura emoção
Com o tema “Boi do Povo, Boi do Povão”, o Garantido levou à arena um espetáculo que uniu tradição, tecnologia e uma profunda conexão com o seu povo. Logo na primeira noite, o boi emocionou ao apresentar o módulo “Somos o Povo da Floresta”, destacando a sabedoria dos povos indígenas e a importância da preservação ambiental.
Na segunda noite, o enredo “Garantido, Patrimônio do Povo” trouxe uma reflexão sobre a resistência das comunidades tradicionais, além de valorizar os mestres da cultura popular e as raízes afro-indígenas que formam a identidade do Amazonas.

Por fim, a terceira apresentação, “Garantido, o Boi do Brasil”, foi marcada por uma homenagem às mulheres artesãs, aos compositores populares e às lideranças culturais. Dessa forma, o boi reafirmou seu compromisso com a defesa da cultura e da memória coletiva.Protagonistas que fizeram história
Ao longo das três noites, personagens fundamentais brilharam na arena. Por exemplo, a cunhã-poranga Isabelle Nogueira encantou o público com uma apresentação repleta de força e beleza, arrancando aplausos em pé.
Além disso, o amo do boi João Paulo Faria emocionou ao resgatar momentos históricos do Garantido, reverenciando figuras lendárias como Paulinho Faria. Sua performance foi apontada como uma das mais marcantes da edição.
Enquanto isso, o pajé Adriano Paketá protagonizou um ritual indígena impactante, reforçando a espiritualidade e a conexão com as raízes amazônicas.
Para encerrar com chave de ouro, a despedida do tripa Denildo Piçanã, que há décadas dá vida ao boi, emocionou não só os torcedores, mas também todos que acompanham o festival.
Vitória no detalhe: ponto a ponto
A disputa foi acirrada do início ao fim. A cada noite, o Garantido conseguiu pequenas vantagens, que, somadas, garantiram o título:
Noite | Garantido | Caprichoso |
---|---|---|
1ª Noite | 419,8 | 419,6 |
2ª Noite | 419,5 | 419,3 |
3ª Noite | 419,7 | 419,0 |
Total | 1.259,0 | 1.257,9 |
Portanto, a diferença de 1,1 ponto foi suficiente para quebrar a sequência de três títulos consecutivos do Caprichoso.
Festa de um lado, protesto do outro
Enquanto o lado vermelho explodia em festa, com fogos, bandeiras e gritos de “É campeão!”, o clima do lado azul foi de frustração. A diretoria do Caprichoso deixou a mesa de apuração antes do encerramento e anunciou que vai recorrer, alegando irregularidades na avaliação dos jurados.
Por outro lado, o presidente do Garantido, Fred Góes, comemorou com entusiasmo:
“Essa vitória é do povo! Cada artesão, cada torcedor, cada brincante que faz o Garantido pulsar. O nosso trabalho venceu!”
Um troféu que carrega história
O troféu deste ano não foi apenas um prêmio, mas um verdadeiro símbolo cultural. Intitulado “Sincretismo Cultural”, ele foi desenvolvido pelo artista local Lucijones Cursino. A peça representa a união dos saberes indígenas, africanos e europeus, refletindo exatamente a essência do Festival de Parintins.

Mais do que um título: um manifesto cultural
Muito além da disputa, o que se viu na arena foi um manifesto em defesa da cultura, da memória e da identidade amazônica. A vitória do Garantido representa a força de um povo que se reconhece, que celebra suas raízes e que resiste — no batuque, no canto, na dança e no coração.
Assim, o grito que ecoa de Parintins para o mundo é um só:
“Garantido é do povo, é do povão! Viva o boi da Baixa do São José!”
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