O Brasil vem consolidando sua posição como um dos líderes globais na transição para uma matriz energética mais limpa. Impulsionado por investimentos em fontes renováveis, políticas públicas e a crescente pressão do mercado por práticas sustentáveis, o país tem apresentado avanços consistentes no setor. No entanto, especialistas alertam: o ritmo da transição ainda esbarra em desafios estruturais, regulatórios e sociais que podem comprometer a consolidação de um modelo energético verdadeiramente sustentável.
Avanços notáveis em fontes renováveis
Atualmente, mais de 85% da matriz elétrica brasileira já provém de fontes renováveis — especialmente hidrelétricas, eólicas e solares, segundo dados do Ministério de Minas e Energia. Em particular, a energia solar tem registrado crescimento exponencial. Em 2025, o Brasil ultrapassou a marca de 40 GW de capacidade instalada em energia solar, posicionando-se entre os cinco maiores mercados do mundo nesse segmento.
Além disso, a energia eólica vem ganhando protagonismo. O Nordeste brasileiro se tornou um dos principais polos de geração, graças ao seu alto potencial de ventos constantes. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), o país deve fechar o ano com mais de 30 GW em operação. Paralelamente, projetos de energia eólica offshore estão em desenvolvimento, embora ainda dependam de regulamentações específicas para avançar.
Marco regulatório em evolução
Ao mesmo tempo, a transição energética tem estimulado o debate sobre a modernização do marco legal do setor. O novo marco da geração distribuída, sancionado em 2022, trouxe maior previsibilidade para investidores e consumidores. Mais recentemente, o governo federal lançou o Plano de Transição Energética Justa, com foco na requalificação de trabalhadores e na mitigação dos impactos socioeconômicos em regiões dependentes de combustíveis fósseis.
Desafios persistem: infraestrutura, desigualdade e dependência hídrica
Apesar dos avanços, gargalos estruturais ainda desafiam a expansão sustentável do setor. A infraestrutura de transmissão, por exemplo, não acompanha o ritmo de crescimento das fontes renováveis. Consequentemente, regiões com alto potencial de geração, como o Norte e o Nordeste, enfrentam dificuldades para escoar a energia produzida até os grandes centros consumidores.
Outro ponto crítico é a dependência histórica da matriz hídrica, que torna o sistema vulnerável a crises climáticas, como a estiagem severa registrada entre 2020 e 2021. Por isso, a diversificação da matriz com o fortalecimento das fontes solar, eólica e de biomassa é considerada essencial para garantir segurança energética no longo prazo.
Além disso, ainda há desigualdade no acesso à energia limpa.
O papel do setor privado e da inovação
Enquanto isso, empresas e startups vêm desempenhando um papel relevante na aceleração da transição energética. Projetos de hidrogênio verde, baterias de longa duração e redes inteligentes (smart grids) estão sendo desenvolvidos em várias regiões do país. Além do mais, o fortalecimento do mercado de carbono e os compromissos ESG (ambientais, sociais e de governança) têm pressionado grandes indústrias a reduzir suas emissões e adotar práticas mais sustentáveis.
Um futuro em disputa
Em síntese, o caminho para uma matriz energética limpa, segura e justa no Brasil ainda está em construção. O avanço das renováveis é promissor, porém, a superação dos obstáculos exigirá esforço coordenado entre governos, setor privado, sociedade civil e comunidades locais.
Portanto, a transição energética não é apenas uma mudança tecnológica. Trata-se de uma transformação estrutural com impactos profundos sobre a economia, o meio ambiente e a justiça social. E, para o Brasil, ela representa tanto um desafio quanto uma oportunidade histórica.
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