Conhecida mundialmente por sua biodiversidade e papel crucial na regulação climática do planeta, a Amazônia pode estar prestes a ganhar um novo protagonismo: o de potência estratégica na produção de hidrogênio verde, uma das apostas globais para a transição energética rumo a um futuro de baixo carbono.
Com abundância de recursos naturais e potencial energético ainda pouco explorado, a região desponta como peça-chave no mapa da energia limpa. Mas afinal, como isso é possível?
Energia limpa, água em abundância e posição estratégica
O hidrogênio verde é produzido por meio da eletrólise da água, processo que separa o hidrogênio do oxigênio com o uso de eletricidade gerada por fontes renováveis. Na Amazônia, a combinação entre disponibilidade hídrica, radiação solar intensa e a crescente adoção de energia limpa cria condições ideais para essa produção.
Além disso, a região abriga importantes usinas hidrelétricas, como Balbina e Tucuruí – esta última uma das maiores do país. Essas estruturas, embora com desafios ambientais, oferecem uma base para projetos piloto de hidrogênio verde com baixa emissão de carbono.
“A Amazônia tem uma matriz energética limpa, com mais de 80% proveniente de fontes renováveis. Isso dá uma vantagem competitiva na produção de hidrogênio verde em escala”, afirma a engenheira ambiental Mariana Furtado, pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).
Investimentos e parcerias internacionais no radar
Enquanto países desenvolvidos buscam reduzir sua dependência de combustíveis fósseis, o Brasil surge como parceiro estratégico. Por isso, o interesse internacional na Amazônia cresce rapidamente.
Em maio de 2025, o governo federal anunciou um projeto-piloto de produção de hidrogênio verde no Pará, em parceria com investidores europeus e asiáticos. A expectativa é que o projeto sirva como modelo para outras regiões da Amazônia brasileira.
Além disso, acordos comerciais em negociação com Alemanha e Japão visam transformar o Norte do Brasil em polo de exportação de energia limpa. “O mundo está de olho na Amazônia não apenas por sua floresta, mas pelo seu papel estratégico na economia verde. Temos a chance de transformar desafios ambientais em oportunidades sustentáveis”, diz Daniel Rocha, diretor da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil).
Desafios ambientais e sociais
No entanto, o potencial da Amazônia para impulsionar o hidrogênio verde não vem sem desafios. A expansão da infraestrutura energética precisa respeitar os limites ambientais e garantir a inclusão das comunidades locais.
Por outro lado, se mal planejada, essa nova corrida energética pode repetir erros históricos de degradação ambiental e exclusão social. “O desenvolvimento energético na Amazônia precisa ser inclusivo e respeitar os povos indígenas e ribeirinhos, que são guardiões da floresta”, alerta a liderança indígena Alessandra Munduruku.
Oportunidade histórica
Em síntese, com a crescente demanda global por energias limpas, a Amazônia tem nas mãos uma oportunidade histórica: contribuir de forma significativa para o combate à crise climática, gerar empregos verdes e atrair investimentos sustentáveis.
Se bem conduzida, a produção de hidrogênio verde pode ser uma virada de página: transformando a região em referência mundial de transição energética, sem abrir mão da conservação ambiental e da justiça social.
