Em pronunciamento nesta terça-feira (22/7), o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que os países que ainda apostam nos combustíveis fósseis como principal fonte energética estão, na verdade, sabotando suas próprias economias. O alerta foi feito durante a apresentação de um novo relatório da Agência Internacional para as Energias Renováveis (IRENA).
Investimentos em energia limpa superam os fósseis
De acordo com os dados do relatório, em 2023 foram investidos US$ 2 trilhões em energia limpa. Esse número representa US$ 800 milhões a mais do que os investimentos em combustíveis fósseis no mesmo ano. Ou seja, a diferença revela uma mudança clara de prioridades no setor energético.
Além disso, esse crescimento representa um aumento de 70% desde o início do Acordo de Paris. Enquanto isso, os custos das fontes renováveis continuam caindo. Por exemplo, a energia solar está 41% mais barata do que as fontes não renováveis, e a eólica offshore, 53% mais acessível.
Economias em risco com a insistência em fósseis
Portanto, Guterres advertiu que a continuidade no uso dos combustíveis fósseis não protege as economias. Pelo contrário, ele ressaltou que isso aumenta os custos, reduz a competitividade e atrasa oportunidades sustentáveis.
Como exemplo, ele mencionou a invasão da Ucrânia pela Rússia. O conflito causou uma crise energética global, elevando os preços do petróleo e do gás, o que, por sua vez, impactou a conta de energia e os alimentos em todo o mundo.
Renováveis crescem em escala global
Segundo o relatório, atualmente as energias renováveis quase se igualam aos combustíveis fósseis em capacidade energética instalada no planeta. No ano passado, quase toda a nova capacidade energética construída veio de fontes renováveis.
Não por acaso, em 2023, o setor de energias limpas contribuiu com 10% do crescimento do PIB mundial. Na prática, isso demonstra que é possível crescer economicamente e, ao mesmo tempo, reduzir as emissões.
Em países como China, União Europeia e Estados Unidos, a energia limpa teve papel de destaque nesse crescimento. Só na UE, quase um terço do avanço econômico foi impulsionado pelas energias renováveis.
Mais empregos e desenvolvimento sustentável
Além dos benefícios econômicos, o setor de energias limpas já emprega mais de 35 milhões de pessoas no mundo, superando o número de empregos nos combustíveis fósseis.
Por exemplo, o estado americano do Texas, conhecido como símbolo da indústria fóssil, tornou-se líder em geração de energia renovável nos Estados Unidos. Isso demonstra que a transição é viável e rentável.
Subsídios ainda favorecem os fósseis
Mesmo com tantos avanços, Guterres destacou uma preocupação: os combustíveis fósseis ainda recebem nove vezes mais subsídios que as fontes limpas. Logo, essa distorção de mercado dificulta a transição justa e urgente que o planeta precisa.
A urgência da ação climática
Diante disso, o secretário-geral enfatizou que o aquecimento global ultrapassará 1,5ºC sem ações drásticas. Sendo assim, é essencial reduzir rapidamente as emissões e expandir o uso de fontes limpas de energia.
Seis medidas essenciais para acelerar a transição
Guterres listou seis prioridades para impulsionar a mudança:
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Atualizar os NDCs (planos climáticos) antes da COP30;
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Modernizar os sistemas energéticos, investindo em armazenamento e redes inteligentes;
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Atender à crescente demanda energética com tecnologias limpas;
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Garantir uma transição energética justa, com inclusão social;
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Transformar comércio e investimento em vetores da transição;
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Reformar a arquitetura financeira global, facilitando o acesso a financiamento verde.
Compromissos para a COP30
Por fim, Guterres convidou os líderes mundiais a apresentarem suas novas metas climáticas durante a Semana de Alto Nível da Assembleia Geral da ONU, em setembro. O evento é considerado um passo decisivo para os compromissos da COP30.
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