A energia como desafio estrutural na Amazônia
Durante o lançamento do livro “Amazônia: A cultura dos povos originários mantém vivo o saber da floresta e o testemunho de seus personagens”, realizado em 18 de novembro na COP30, a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) destacou um dos problemas mais profundos da região: a falta de acesso contínuo à energia elétrica.
Além disso, o debate foi conduzido por Valcléia Lima, superintendente geral-adjunta da FAS, que apresentou dados sobre os impactos diretos da falta de eletrificação. Como resultado, ficou evidente que a economia, a educação, a saúde e a autonomia produtiva das comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas são afetadas diariamente.
Impactos da falta de eletricidade na região
Segundo pesquisa da ACTION Pesquisas de Mercado, em 2019, 42,2% dos moradores da Amazônia apontaram a energia elétrica como um dos maiores desafios estruturais. Por outro lado, dados do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) mostram que mais de 990 mil pessoas na Amazônia Legal ainda vivem sem acesso a eletricidade.
Desse grupo, muitas dependem apenas de geradores movidos a combustíveis fósseis, que funcionam poucas horas por dia. Como consequência, as emissões de gases de efeito estufa aumentam e os serviços básicos ficam limitados.
Atualmente, 313 das 582 comunidades atendidas pela FAS utilizam geradores. Esses equipamentos operam, em média, apenas quatro horas diárias, o que eleva custos, reduz a qualidade do serviço e gera emissões que poderiam ser evitadas. Assim, a falta de energia compromete o desenvolvimento regional e impede a agregação de valor aos produtos locais.
Transição energética como caminho para autonomia
Durante sua fala, Valcléia reforçou que a transição energética é essencial para garantir meios sustentáveis de produção e, ao mesmo tempo, ampliar a geração de renda.
Segundo ela:
“Sem energia não haverá prosperidade na Amazônia. São quase um milhão de amazônidas sem energia 24 horas por dia. Muitas vezes, o abastecimento dura apenas quatro horas, o que não é suficiente para armazenar, beneficiar ou agregar valor aos produtos.”
Projetos da FAS ampliam acesso à energia renovável
Nos últimos anos, a FAS intensificou parcerias para levar energia renovável às comunidades amazônicas. Um exemplo disso é o projeto que beneficiou mais de 530 famílias da comunidade Bauana, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Uacari, em Carauari, a 787 quilômetros de Manaus.
Graças à iniciativa, o empreendedorismo sustentável ganhou força, enquanto os indicadores socioeconômicos melhoraram significativamente.
Com o novo sistema solar, duas miniusinas passaram a produzir óleos de andiroba, murumuru, buriti e açaí. O sistema inclui 80 painéis solares e 32 baterias de lítio. Além disso, outras 10 comunidades também serão beneficiadas, entre elas Santo Antônio, Vila Ramalho, São Raimundo, Bom Jesus, Imperatriz, Roque, Nova Esperança, Novo Horizonte, Pupuaí e Gumo do Facão.
Essa estrutura faz parte do projeto Sempre Luz, desenvolvido pela FAS em parceria com a UCB Power. Em 2021, a mesma ação levou energia 24 horas por dia para 130 moradores da comunidade Santa Helena do Inglês, na RDS Rio Negro, em Iranduba.
Para o extrativista Caio Gondim do Carmo, os benefícios são claros:
“A usina de beneficiamento pode gerar renda e promover a sustentabilidade socioeconômica e ambiental. Além disso, oferece vantagens para todas as famílias da comunidade.”
Tecnologia inédita no Brasil chega à comunidade Tumbira
Outra iniciativa de destaque é o projeto-piloto instalado na comunidade Tumbira, na RDS do Rio Negro. Em agosto, o local recebeu o primeiro sistema de armazenamento com baterias de sódio do Brasil, desenvolvido pela UCB Power em parceria com a FAS.
O sistema combina 20 módulos fotovoltaicos (7,50 kWp) e 16 baterias de sódio (38,40 kWh). Dessa forma, a comunidade agora dispõe de energia limpa, contínua e com vida útil estimada entre 4.000 e 6.000 ciclos — ou seja, mais de dez anos de operação.
Com investimento de cerca de R$ 1,2 milhão, o projeto beneficia 43 famílias. Ele permite refrigeração de pescado, produção de sorvetes, armazenamento de alimentos e atividades produtivas diversas. Além disso, reduz a dependência de diesel e atua como laboratório para novas instalações na Amazônia Legal.
Expansão do acesso à energia renovável até 2026
Durante a COP30, o governo brasileiro e a GEAPP firmaram, em Belém, um protocolo de intenções para ampliar o acesso à energia renovável em comunidades remotas do Amazonas, Pará e Roraima. Esse acordo, com duração de cinco anos, busca eliminar a pobreza energética, fortalecer a bioeconomia e reduzir o uso de combustíveis fósseis.
Na primeira etapa, a GEAPP destinou US$ 3 milhões ao piloto que será implementado pela FAS. A estratégia se concentra em dois eixos:
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apoiar políticas públicas que ampliem o acesso à energia e à renda;
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financiar micro-redes solares com baterias em áreas isoladas.
Por fim, a meta é promover autonomia energética, ampliar serviços essenciais — como saúde e educação — e fortalecer atividades produtivas nas regiões mais remotas da Amazônia.
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